segunda-feira, 4 de junho de 2012

A vergonhosa saúde do Brasil




Semana passada minha hematologista, dessas super renomadas, que vivem de pesquisa e por isso não atendem em consultório, apenas hospitais públicos, me informonou que não poderia mais me atender onde de costume, transferindo meu atendimento para um hospital público no Gama (cidade satélite do DF). Então, 4ª feira, depois do almoço, peço liberação no trabalho para a consulta e sigo rumo ao Hospital regional do Gama. Claro que me perco, como qualquer pessoa não nascida no DF, para quem os endereços aqui e as sinalizações parecem pistas para serem desvendadas por um detetive. No meio da longa viagem entre Brasília e Gama, minha cabeça começa a arder insuportávelmente. Chego ao hospital já no que seria metade do horário de expediente do meu segundo turno. Depois então de ultrapassar um guardinha mal humorado, algumas salas fechadas na hematologia, encontro um rapaz simpático que se prontifica a achar alguém que possa me informar como faço para falar com a médica. Ele chega entõ acompanhado de um outro rapaz que me traz a "feliz" notícia de que a médica não foi trabalhar. Peço então, gentilmente, que ele me forneça um atestado de comparecimento da minha ída inútil para que eu possa apresentar no trabalho. "Não há nenhum outro médico presente no serviço de hematologia para fornecer o atestado e no caso do atestado ser de comparecimento, não há nenhum funcionário capacitado a fornecer o atestado. Se a senhora quiser, pode tentar a emergência." Não achei má idéia, visto que minha cabeça não parava de queimar e eu tinha certeza de que minha pressão arterial estava para explodir. Depois de ter que explicar inúmeras vezes para outro guardinha o que se passava até que ele me iberasse a entrada na emergência, um determinado funcionário me autorizou a passar a frente dos demais pacientes, para assim que saísse qualquer pessoa de um dos consultórios e eu avistasse um médico entrasse para pedir meu atestado. Ao olhar ao meu redor e ver aquelas inúmeras pessoas, deitadas em macas aos cuidados do acaso no corredor, outras se escorando nas paredes aguardando atendimento, algumas sentadas nos bancos segurando seu próprio soro, muitas gemendo de dor e todas com o sofrimento estampado na face, me recusei a adiar ainda mais, por um minuto que fosse, o sofrimento de qualquer uma delas. Dei meia volta e me retirei. Que idéia a minha solicitar um atestado num hospital público... se nem médico tem, será que haveria papel?! Mas me diz... como faço para comprovar onde trabalho que estava num hospital?! Já havia se ído quase a tarde inteira de trabalho.
Com a cabeça da forma que estava, impossível voltar paraa o trabalho ou sequer para casa. Voltei para Brasília, rumo ao Santa Helena, um dos mais ricos hospitais particulares da capital do país. Chegando lá, o hospital também amontoado de gente embora, sem nem comparação com o Regional de Taguatinga. Fui direto para o que agora chama "acolhimento", a atendente perguntou meus sintomas, mediu minha pressão e lá estava a causa, pressão arterial 17/10. Encheu meu braço de pulseirinhas e me mandou para o atendimento cardiológico. Lá fui eu, com meus pais, para um corredor reservado repleto de televisões de plasma, esperar num banquinho onde não havia mais ninguém em frente ao consultório cardiológico o atendimento emergencial. 1h40 se passaram, com a minha pressão a 17/10 até que eu recebesse o atendimento emergencial. Em 1h40 a minha pressão poderia ter aumentado, eu poderia ter feito um AVC, um aneurisma ou qualquer coisa do tipo mas nada aconteceu. Fui atendida por um médico muito simpático que se assustou com a minha pressão, me encaminhou para ser medicada e lá dentro ainda esperei outros tantos minutos até ser atendida, enquanto as enfermeiras caminhavam de um lado para o outro. Então chegou a hora de medicar a enfermeira sequer tinha competência para pulsionar minha veia. Esse foi o atendimento recebido no que é considerado um dos melhores hospitais de Brasília!
Enquanto aguardava o atendimento uma mulher que já se encontrava lá quando eu cheguei, passando mal com uma criança que tinha entre 2 e 3 anos no colo, gritava quase que implorando atendimento antes que caísse com seu filho nos braços. Todos os pacientes que se encontravam na recepção à espera de atendimento para seus problemas, pediam juntos que ela fosse atendida a frente antes que acontecesse algo pior mas nenhum funcionário se dirigiu à ela até que ela começasse a berrar e bater nos balcões de atendimento.
Outra paciente que se aproximou de mim enquanto eu aguardava o atendimento cardiológico contou que se encontrava no hospital desde às 14:00 hrs, já eram 21:00hrs e ela ainda não havia sido liberada pois aguardava que o cardiologista voltasse a vê-la após os exames terem sido feitos.
É isso que chama se de emergêcia?! É pra isso que gastamos fortunas com planos de saúde???
O hospital é riquíssimo, acabou de passar por uma reforma e está lindo! Chão de mármore, televisores de plasma espalhados por todo canto, fachadas de vidro... mas cadê o atendimento que preste???
Conversando sobre o assunto via Twitter com uma de minhas seguidoras @leilanereb (que eu sigo também), ela disse "sucatearam a rede pública e superlotaram a rede privada." Discordo completamente, apesar de respeitar muito, sempre, seus pontos de vista. Pra mim são públicos completamente distintos os da rede pública e rede privada. sucatearam sim a rede pública mas o público de lá, infelizmente, não está lá por opção, eles não tem condições de chegarem a hospitais como o "tal" Santa Helena. O problema da rede privada é a falta de respeito com os profissionais que reflete na falta respeito no atendimento ao paciente. Ao longo da minha hora e quarenta de espera pelo atendimento, apareceram mais 3 pessoas ao todo, incluindo a paciente que retornava com o resultado dos exames, para serem atendidas pelo cardiologista. Ou seja, isso não é uma questão de superlotamento. Foi puro descaso a questão da demora.
E a senhora que passava mal com a criança no colo?! Se não tinha ninguém para atendê-la durante horas como com seus gritos apareceu??? Mágica???
Por quê ao invés de gastar rios de dinheiro com uma obra milionária para transformar o hospital quase num ponto turístico, não se gasta um pouco mais para contratar mais médicos com salários decentes, mais enfermeiras qualificadas, mais atendentes para os guichês? Porque a população não tem opção e seja qual for a qualidade do atendimento oferecido por eles, estaremos lá enriquecendo cada vez mais os donos dos hospitais particulares. E assim, tudo vira uma bola de neve...

2 comentários:

  1. CAOS NA SAÚDE : DESCASO, CORRUPÇÃO E MERCADORIA

    Há quanto tempo nós vemos e ouvimos esse tipo de relato na saúde brasileira? Hospitais sem médicos, sem remédios, superlotados e ainda aqueles que conseguem uma mísera senha, são mal atendidos. É um descaso completo por parte dos governantes que até com a saúde querem lucrar, ou melhor, desviar o dinheiro dela como se a nossa saúde fosse uma mercadoria.

    Saúde não é mercadoria!!! Há algo de muito errado nos valores de uma sociedade que trata a saúde de forma fornecedor/consumidor. A saúde o é um direito do cidadão e que deve ser assegurado pelo Estado! Há um consenso de que todo individuo, independente de seu poder econômico, tem direito à saúde, entretanto tal direito não se sustenta na realidade.

    Já vimos escândalos em contratos superfaturados com matérias primas básicas dos hospitais e até com materiais de limpeza. O que fazer para fiscalizar?? Vocês sabiam que os concursos para auditores dos SUS foram cancelados?? Como fazer para que o SUS, além de lindo, ele funcione?

    Há iniciativas boas como a do deputado Reguffe (PDT-DF) que acha “um absurdo” a medida publicada no Diário Oficial da União (DOU), segunda (19/03), sobre o aumento de até 5,85% no preço dos medicamentos. O parlamentar é autor do Projeto de Lei nº 1097/11 que retira todos os impostos dos remédios, e disse que os maiores atingidos com a medida são as famílias, principalmente as mais carentes. “Tem família que chega a gastar 2 mil por mês com medicamento, o que para eles não é uma opção, mas sim, uma necessidade”, afirma.
    Só a título de “curiosidade”, o Brasil ostenta hoje o título de país com a maior carga tributária sobre medicamentos do mundo!
    Temos que nos mobilizar e parar de sermos omissos com as injustiças que ocorrem na frente dos nossos olhos, todo santo dia! É uma decisão de vida ou de morte!

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  2. Um texto bastante interessante!

    http://conviccoesemextase.blogspot.com.br/

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