quarta-feira, 20 de abril de 2011

REATECH

Eu tive o prazer de estar a trabalho pelo Comitê Paraolímpico Brasileiro nos quatro dias da 10ª edição da feira REATECH. É claro que trabalhando não dá para se ver tudo e ficar à par de todas as novidades mas dá para se ver algumas coisas nas andanças e até mesmo somos "obrigados" a ver outras pelo trabalho mesmo.
Em meio a esses quatro dias, fiz duas grandes constatações. Uma, que realmente estamos evoluindo a cada dia, coisas incríveis estão surgindo e a cada instante surgem novos instrumentos para facilitarem nossa vida.
Só para dar um exemplo, foi criada uma cadeira de evacuação de prédios em caso de incêndio para deficientes. É incrível. Difícil será conscientizar os condômínios de que elas são necessárias. Elas descem na velocidade de uma pessoa. Como um deficiente desce do 14º andar de um prédio pelas escadas em caso de incêndio?! Alguém que não convive com deficientes já parou para pensar nisso? Aposto que os deficientes ou seus pais, sim.
Além disso as adaptações para carro, banheiro, surf... tudo está se tornando cada vez melhor.
Eu mesma estava procurando para mim uma cadeira mais leve. Especificamente, eu procurava uma cadeira de Titanium por ser a mais leve que existia até então no mercado. A leveza de uma cadeira não é luxo e sim uma necessidade. Ameniza dores na coluna e nas mãos de qualquer cadeirante e também dos que conduzem um cadeirante. E, no meu caso, leveza é tudo o que eu procuro para que possa me tornar mais independente. A minha busca por uma cadeira mais leve se tornou constante desde que comprei meu carro já que não consigo levantar minha cadeira atual para guardar ao meu lado e assim, continuo dependente de uma terceira pessoa apesar do carro. Apesar de forte não possuo o perfeito equilíbrio de tronco o que me dificulta levantar qualquer coisa que tenha um peso considerável. Os 13 Kg da minha atual cadeira, impossível para mim. Os 9 kg da cadeira de titanium, ainda impossível... mas quem sabe com muita fisioterapia e ralação, afinal, já consegui tantas coisas ditas impossíveis. Enfim, peso é um critério essencial para que eu consiga guardar minha própria cadeira no carro sozinha e assim ganhe mais liberdade. Num primeiro momento o sonho de liberdade total para ir e vir foi frustrado mas como sou brasileira e não desisto jamais, lá fui eu correr atrás. Quase ao fechar a compra da cadeira de Titanium que, por sinal era a minnha cara,  branca perolada, com o estofado em preto e datelhes em roxo metalizado (linda!), descobri que estava sendo lançada na feira a cadeira que está sendo considerada a melhor do mundo. Uma cadeira que pesa exatos 4,2 Kg com rodas e apenas 2,1 kg sem rodas. Enfim, uma cadeira que consigo levantar, até com as rodas, imagina sem rodas. Liberdade! A minha liberdade tinha sido inventada e estava alí, à venda, na minha frente. Nem sei a alegria que senti, apesar da tristeza por ter que abrir mão da outra(rs). Detalhe, a cadeira custa nada mais nada menos do que R$ 16.900,00.


Foto: Cami Góes
A minha liberdade vale qualquer preço e, embora eu não seja rica, felizmente tenho condições de comprar e vou comprar. Meu pai vai me ajudar e breve, terei minha liberdade "comprada" em mãos. Luxo?! Não! Se eu pudesse escollher com o que gastar R$ 16.900,00 com certeza não seria com uma cadeira de rodas mas é necessidade. Uma necessidade que se faz maior do que qualquer outra para mim, necessidade de independência. Vale qualquer dinheiro, qualquer sacrifício. E como bem disse uma pessoa muito especial que foi ver a cadeira comigo, se eu tenho como comprar não tenho que pensar duas vezes. Estou radiante de felicidade, vai ser mais uma conquista para mim.
No entanto, logo em seguida, após a euforia inicial, uma outra triste realidade se fez presente. Deficiente não pode ser pobre! E isso é o cúmulo. Minha cadeira é top, considerada a melhor do mundo, feita de fibra de carbono. Embora não seja um luxo para os que usam, é considerada um luxo para os que vendem. Mas apesar dela, não há cadeiras por menos de R$ 3.000,00. Como uma mãe que ganha salário mínimo para sustentar uma família pode comprar uma cadeira para um filho deficiente? E como uma criança deficiente pode viver sem uma cadeira? Se arrastando pelo chão? E os adultos? Os adultos pobres? Deve ser ainda pior.  Sim, porque esses provavelmente nem mãe tem que possa carregá-los. Será que essas pessoas não tem direito a um mínimo de dignidade?! Cadeira para cadeirantes é como pernas para os andantes. São parte integrante do nosso corpo. Essas pessoas não tem como ter acesso a esse mundo. Isso não é digno gente, não é digno ter que ser rico para "poder" ser deficiente. Mas é fato! Deficiente não precisa só de cadeira de rodas. Existem vários tipos de deficiências e vários tipo de necessidades mas nada, nada em absoluto, financeiramente viável. Uma triste realidade...

10 comentários:

  1. Passando para te desejar um excelente feriadão!
    Bjss
    Dani

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  2. Oi Camilinha,eu descobri a pouco tempo que a cadeira de rodas é uma ortese também e podemos requerer a ortese adequada na justiça através de prescrição médica, esse é o grande desafio, um médico preescrever a ortese adequada para o seu dia a dia. Eu estou conseguindo e estou com um processo na justiça para adquirir uma ortese de R$ 45.000,00 e só teria condições realmente na justiça. A ortese só falta andar sozinha...rssss. Precisamos lutar pelos nossos direitos e correr atrás da nossa qualidade de vida.

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  3. Eu não sabia disso Vivi. Essa informação é importantíssima e tenho certeza que a maior parte das pessoas não sabem. Obrigada por compartilhar e boa sorte no processo.
    Bjos

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  4. Caraca Camila, que demais essa cadeira! Amei muito tudo o que vc escreveu e asisno mebaixo! Falei ontem sobre rico não ter direito e ter filho deficiente, acabamos falando a mesma coisa em situções diferentes, mas perecidas, sintonia!

    Em um país onde o salário mínimo é R$5440,oo é vergonhoso!

    Qto ao comentário acima, eu soube de mães que colocaram na justiça e o governo deu tudo desde cadeira, atee tratamentos. Mas o critério do juiz é que não sei...

    Bjão!

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  5. Poxa... Eu não sabia dessa da justiça! Que bom que há uma alternativa! Sempre pensava nas famílias carentes e me entristece ver o custo dos tratamentos/ fisioterapias/ mobiliário... Absurdo! Ganhar dinheiro é uma necessidade no mundo em que vivemos, mas não precisa explorar né?!

    Bom saber do processo, vou divulgar!
    Boa sorte Vivi...

    Beijos Cá, e bom feriado!

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  6. Sintonia sempre Mari!
    Essa cadeira é mesmo demais, pena que será para muito poucos...
    Beijos

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  7. É assim que eu penso Rê... ganhar dinheiro tudo bem mas explorar não é justo ainda mais quando se trata de necessidade e não de luxo.
    Bjos.

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  8. Oi, eu vi seu blog no facebook e achei muito interessante o que vc escreveu. Eu não sou cadeirante, mas há pouco tempo estou inserida neste meio ao divulgar o protótipo do carro para cadeirantes que o meu marido fez, o Pratyko. Este veículo estava na REATECH. Tenho alguns amigos cadeirantes e fico indignada com o preço de tudo que é destinado para os cadeirantes. É realmente um absurdo! Concordo plenamente com vc... (Isis Alexandra L. Mesquita)

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  9. Isis,
    é muito bom ver uma pessoa que não é cadeirante, nem mãe de um ou esposa se indignar com isso tb! Obrigada pela força!

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